
Por Mariana Domitila (08/07/2025)
“Nem artificial, nem inteligente, mas com potencial altamente imbecilizante.” Assim definiu Miguel Nicolelis, neurocientista e pesquisador, em um dos seus artigos mais importantes dos últimos tempos, na CNN Brasil (em 06/07/2025) sobre o uso (e abuso) da IA generativa.
Ao descrever o impacto neurológico do uso excessivo dessas ferramentas, ele acende um alerta para educadores, profissionais da saúde mental e lideranças:
“… o preço da conveniência pode ser a amputação lenta da nossa própria capacidade de pensar”.
Essa constatação me inquieta como educadora, pesquisadora, mentora e alguém que escolheu unir Educação Superior/Corporativa, Comunicação, PNL, Neurociência, Psicologia cognitivo-comportamental e Sociologia crítica como bússolas para compreender o que estamos vivendo.
“A ansiedade é mantida pela superestimação do perigo e pela subestimação da própria capacidade de enfrentamento.” (Aaron Beck)
Se essa lógica vale para os nossos clientes e estudantes, também vale para as sociedades que enfrentam mudanças tecnológicas velozes demais. Há, sim, um perigo: o de subestimarmos a nossa inteligência crítica, relacional e emocional, entregando decisões, textos e interpretações ao automatismo de um sistema que “parece saber”, mas não sente, não se responsabiliza, não transforma.
Quando a tecnologia deixa de ser ponte e se torna filtro
Zygmunt Bauman já nos alertava para os riscos de um mundo cada vez mais líquido, onde os vínculos, os afetos e até as ideias se tornam voláteis, frágeis, descartáveis. Deste modo, vale analisar que a IA, se usada sem discernimento, pode se tornar mais um vetor dessa liquidez, substituindo relações humanas por interações funcionais, e esvaziando o pensamento crítico em nome da praticidade.
Byung-Chul Han aprofunda esse cenário ao mostrar como vivemos em uma “sociedade do cansaço”, onde somos ao mesmo tempo vigilantes e vigiados, consumidores e produtos. A IA, nesse contexto, pode acelerar o esgotamento da subjetividade e a anulação do silêncio, do erro e da pausa (todos essenciais à reflexão profunda e à verdadeira aprendizagem).
“A transparência total é o fim da confiança, do mistério e da liberdade.” (Byung-Chul Han)
O que a neurociência nos ensina
Nicolelis cita estudos mostrando que o uso da IA para tarefas cognitivas complexas reduz em até 55% a conectividade entre áreas do cérebro, levando a um modo de funcionamento mais automático e menos consciente.
“A mente surge quando o cérebro é capaz de representar o próprio corpo em interação com o mundo.” (António Damásio)
Ao delegarmos funções mentais essenciais (como raciocinar, escrever, decidir) a sistemas artificiais, corremos o risco de perder não apenas a memória e a linguagem, mas também o sentido. O sentido de autoria, de identidade, de ética.
Entre técnica e consciência: a travessia possível
Trabalho com educação crítica, psicologia cognitivo-comportamental, PNL e neurociência aplicadas à vida real, ou seja, de pessoas reais. Em mentorias e formações, observo o impacto que o excesso de estímulo e a falta de reflexão vêm provocando. A tecnologia, quando não filtrada por consciência e presença, não é solução: é ruído.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção.” (Paulo Freire)
Freire nos convida, com coragem e sutileza, a criar espaços de pensamento onde cada um possa produzir seu próprio saber. É exatamente o oposto da lógica de “copiar e colar” que a IA pode favorecer, quando usada como muleta, e não como apoio.
E você? Como tem se relacionado com a IA?
- Você a usa para ampliar sua consciência ou para fugir da complexidade?
- Suas ideias ainda têm a sua voz?
- Você ainda consegue se escutar em meio às respostas instantâneas?
Acredito que o futuro da inteligência é social, emocional e crítica. E que as ferramentas, por mais sofisticadas que sejam, precisam servir à humanidade, e não substituí-la.
Se você sente que está vivendo esse conflito entre técnica e sentido, produtividade e esgotamento, inteligência e automatismo, talvez seja hora de desacelerar e reaprender a pensar. Eu posso te ajudar nisso!
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