Mariana Domitila

Doutora em Educação e Mentora Transformacional

INDIVÍDUOS MICROEMPRESAS?

Inspirado pela perspectiva do filósofo do século XIX, Ralph Waldo Emerson, e consequentemente por sua frase: “Quando se patina sobre o gelo fino, a segurança está na velocidade”, Zygmunt Bauman, sociólogo polonês falecido em janeiro de 2017, desenvolveu a metáfora da modernidade líquida que seria uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação das formas de agir em possíveis hábitos e rotinas. Imagino que isso faça algum sentido para você. É provável que, em algum momento do seu dia, você perceba que os desafios são tantos que acabam gerando a sensação de impossibilidade de retenção de tudo que pensa ou sente ser necessário absorver, frente tantas informações, tarefas e expectativas da vida pessoal e profissional.

Entre esses desafios é importante ressaltar a competitividade e a individualidade que parece se estabelecer nos relacionamentos interpessoais e que, muitas vezes, resultam em conflitos e improdutividade. Temos líderes cada vez mais focados nas metas e objetivos empresariais, pressionados por outros líderes ou pelas próprias necessidades e tendências macroeconômicas, esquecendo-se muitas vezes de que o liderado também é uma pessoa – provavelmente porque replicam o comportamento de pressão que recebem. Líderes que buscam ser melhores que outros líderes.

Deste modo, percebe-se mais liderados insatisfeitos e desgastados frente aos sistemas aparentemente rígidos de controle de tempo, espaço e produtividade. Há necessidades de qualificação e adequação a determinados perfis: A, B ou C – eis a padronização dos modelos ideais. Exigências de competência técnica de ponta, atualizada e inovadora, assim como amplitude na competência comportamental. Idiomas, experiências, postura, comunicação de excelência. O pacote completo! Liderados que buscam ser melhores que outros liderados. Soma-se a isso um mercado consumidor repleto de clientes cada vez mais bem informados, virtualmente conectados; praticamente 24 horas por dia e bem mais exigentes, não somente em relação à qualidade dos produtos e serviços, mas também com relação aos resultados rápidos prometidos pelos meios de comunicação. Clientes produtores de publicidade positiva ou negativa referente às empresas disponíveis. Clientes empoderados principalmente pelas redes sociais, expondo suas satisfações e insatisfações instantaneamente. Enfim, clientes em busca das “pílulas milagrosas da felicidade individual” e “mapas para caminhos secretos” e rapidamente acessados, que disponibilizem a sensação de sabedoria e esperteza frente aos outros.

Considerando, portanto, que os protagonistas do contexto organizacional aqui mencionados (Líderes, liderados e clientes) fazem parte de uma sociedade competitiva, coloca-se como hipótese que, cada vez mais, as pessoas se comportam como “indivíduos microempresas”, pois funcionam como uma empresa ou marca que necessita obter atenção do mercado consumidor; que necessita surpreender e satisfazer, assim como ser reconhecidas como a melhores devido aos seus diferenciais competitivos e características básicas exigidas pelo tal mercado.

Segundo o professor Sylvio Gadelha da Universidade do Ceará – UFC, que escreve sobre o conceito dos “indivíduos microempresas”, podemos considerar que nossa sociedade está tomada pela cultura do empreendedorismo. “O indivíduo moderno, a que se qualificava como sujeito de direitos, transmuta-se, assim, num indivíduo microempresa: Você S/A.” Nesse contexto, a reflexão que se pretende deixar é que uma organização que conseguir através de seus elementos, abrir os olhos e fazer enxergar aquilo que poucos enxergam, ouvir além do que é dito e sentir aquilo que não pode ser descrito, obterá vantagem competitiva e social, pois permite que sua estrutura física e conceitual se desenvolva como se fosse uma pessoa. Ou seja, ao invés de transformar pessoas em empresas, o que nos impediria de desenvolver empresas como se fossem pessoas? Menos PESSOAS-EMPRESA e mais EMPRESAS-PESSOA!

Tal orientação, certamente já é uma tendência de mercado, ainda pouco explorada, mas já absorvida por grandes empresas, que procuram investir em desenvolvimento humano, através de treinamentos e consultorias pautadas em mentoring, coaching e PNL (Programação Neurolinguística), além de conceitos e visões direcionadas à inteligência emocional e espiritual. Organizações com pessoas mais colaborativas, mais cientes frente às circunstâncias da vida. Organizações com pessoas que entenderão que a velocidade ou quantidade da atualização pessoal e profissional, em certos contextos, pouco importará, mas sim a qualidade dos pensamentos e ações aplicadas através de um “Ser e Estar” mais sustentável. É provável que você se pergunte no final deste texto: Qual líder, liderado e cliente eu sou e qual eu quero ser? Por quê? Como? Faz sentido? – Acredito e desejo que sim!

Publicado também em: Opinião “Indivíduos microempresas” por Mariana Domitila no “Painel de Conjuntura Macroeconômica ISAE-FGV/ 2017 – Disponível em: http://www.isaebrasil.com.br/wp-content/uploads/2017/11/isae_painelmacroeconomico_edicao47-1.pdf

Publicado por

Mariana Domitila Padovani Martins
Doutora em Educação e Mentora Transformacional 🧠💡

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